Mario Persona - Porque as pessoas nem sempre têm sucesso no planejamento da carreira?

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Porque as pessoas nem sempre têm sucesso no planejamento da carreira?

Mario Persona - Há trinta anos um profissional saía da faculdade para atuar na mesma profissão que escolheu ao entrar. Hoje não. A velocidade das mudanças é tão grande que em quatro anos o mercado muda o suficiente para o recém formado descobrir que a profissão que escolheu está em decadência, ou que precisará fazer uma especialização para uma área de sua profissão que nem existia quando prestou o vestibular.

A visão limitada é uma das grandes dificuldades para o profissional planejar sua carreira. Se ele pensasse mais de si mesmo como uma empresa ou produto, acabaria descobrindo que a pergunta já não é mais "o que vou ser quando crescer", mas o que o mercado irá desejar de mim. Pessoas que têm essa visão observam as mudanças sutis ou mesmo as guinadas do mercado e procuram acompanhá-las, preparando-se mais para uma carreira de mudanças do que para uma carreira estática, algo cada vez mais raro.

Hoje fala-se muito do analfabetismo profissional. Como explicar isso e o que fazer para que isso não aconteça?

Mario Persona - Entendo como analfabetismo profissional a incapacidade de "ler" o que o mercado realmente deseja do profissional, e de "escrever" soluções vendáveis para empresas e clientes. Se, por um lado, existe o analfabetismo profissional, existe também uma pseudo-erudição que pode criar a falsa sensação de que um curso superior ou de pós-graduação seja suficiente para preparar um profissional para o mercado. Não é.

Analfabeto profissional não é apenas aquele a quem faltam as qualificações necessárias para atuar no mercado, mas é também quem não consegue aplicar aquilo que aprendeu dentro de novos contextos e realidades. Eu já passei dos cinqüenta anos e aprendi coisas, como utilizar uma régua de cálculo, que hoje são absolutamente inúteis. O conhecimento e sua aplicação mudam o tempo todo e preciso me adequar, buscar as ferramentas e o conhecimento que é útil em cada fase desse processo.

O que uma faculdade ensina é o conhecimento de hoje, mas o profissional que sai dela deve estar preparado para atuar no mercado de amanhã, o que exigirá dele uma atitude de aprendizado contínuo, se quiser sobreviver. Está ocorrendo também uma mudança no significado do saber.

Antigamente mentes enciclopédicas podiam levar vantagem, mas hoje elas perdem para as mentes indagadoras e esquadrinhadoras, pessoas curiosas que estão constantemente querendo saber a razão das coisas e têm um faro de perdigueiro para sair à cata de respostas. Se antes bastava ter a informação, hoje é preciso saber procurar, pois a informação é abundante. Antigamente tirava nota alta quem decorava as respostas certas. O mercado hoje busca por pessoas que saibam fazer as perguntas certas.

Como se diferenciar em carreiras consideradas saturadas pelo mercado?

Mario Persona - Se minha profissão for fabricar galochas, é melhor eu transformar minha linha de produtos em calçados impermeáveis para pescadores esportivos, ou não vou sobreviver. Carreiras podem ser adaptadas do mesmo modo como as empresas fazem com produtos. Porém às vezes não há como reciclar uma atividade que caminha rapidamente para a extinção. Aí o jeito é aproveitar os elementos que podem ser aproveitados em outra atividade ou profissão e partir para a mudança.

Minha formação é em arquitetura e urbanismo, mas já perdi a conta das vezes que mudei de profissão ao longo de minha carreira. Além de arquiteto, já trabalhei como desenhista, professor em cursos de idiomas, professor de ensino médio, faculdade, MBA, agricultor, construtor, vendedor, negociador, livreiro, editor, comerciante... sem contar que hoje atuo, além de consultor, como palestrante, tradutor e escritor. Até pedreiro, eletricista, carpinteiro e encanador já fui em duas casas que construí com as próprias mãos. É claro que minhas atividades atuais acabam reunindo experiências de todas essas atividades, uma diversidade que hoje considero essencial ao pensamento criativo.

O sucesso da carreira depende exclusivamente do profissional?

Mario Persona - Entendo que sim, porque quando o profissional é bom ele saberá evitar profissões, atividades, sócios, empresas ou clientes ruins, coisas que muitos costumam culpar por seu próprio fracasso profissional. Quando ouço alguém reclamando de tudo e de todos por seu fracasso eu até saio de perto. Conheço pessoas cegas, sem braços ou pernas que estão aí ativas numa profissão e superaram dificuldades que a maioria das pessoas nem imagina quais são.

Enquanto isso, pessoas que poderiam ter tudo nas mãos, mãos que funcionam perfeitamente, passam tanto tempo se lamuriando da má sorte ou responsabilizando outros por seu fracasso que mal lhes sobra tempo para se empenharem profissionalmente.

Quais são as dicas que você daria a um profissional para planejar sua carreira?

Mario Persona - Fique de olho no mercado. Procure detectar quais os segmentos que prometem se desenvolver neste e no próximo ano, e prepare-se para atuar neles. Quando ocorreu a revolução da Internet, até quem entendia só um pouquinho do assunto era considerado especialista e chegava a ganhar salários milionários. Embora eu não acredite que ocorra em um futuro próximo algo com o mesmo impacto da Internet, há muitas áreas em franca expansão que irão precisar de profissionais.

Deixe-me dar um exemplo de como a coisa funciona. Tudo indica que o biocombustível terá um papel essencial na economia, o que significa que muitos investimentos serão derramados nessa área. O profissional deve analisar a cadeia produtiva do biocombustível e descobrir onde é que ele se encaixa, porque é nessa cadeia que surgirão oportunidades.

Essa cadeia vai desde a pesquisa até a produção de veículos, passando pela agricultura, transporte e outras atividades. Procurar se inserir em um desses elos é fazer um bom planejamento de sua carreira no curto prazo, pois você estará entrando em um segmento para onde estão sendo dirigidos os investimentos. E, como diz o ditado, "siga o dinheiro".

Quais ações podem invalidar todo o planejamento?

Mario Persona - A inatividade e um sentimento de autocomiseração do tipo "ninguém me ama, ninguém me quer" são as coisas mais destrutivas que podem ameaçar uma carreira. Ou seja, o pior inimigo de um planejamento é falta de visão e excesso de concentração no próprio umbigo. O maior inimigo de uma carreira é sentir pena de si mesmo.

Mario Persona
http://www.mariopersona.com.br/entrevista_grupo-foco_planejar-carreira.html

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